segunda-feira, 23 de abril de 2012

VITRAIS MEDIEVAIS


O vitral como metáfora


A arte do vitral sempre ocupou um lugar especial na imaginação popular, que produz uma experiência estética inteiramente diferente do que a de qualquer outra arte a partir de afrescos, pinturas e iluminuras. O observador é impressionado pelo esplendor da cor brilhante produzida exclusivamente com o esplendor da luz.
A história do vitral está enraizada na arquitetura. Para o seu efeito, o vitral depende de um contexto espacial estrutural. A experiência de uma grande igreja vista do interior repleto de vitrais, brilhando com todo o tipo de jóia, era entendida como sendo a personificação do céu. Na Idade Média, as igrejas foram os locais de encontro do céu e da terra, santificados pela Virgem Maria. A pintura de Jan van Eyck “A Anunciação” retrata a presença milagrosa de Maria no santuário cercado por referências visuais de seu papel como mãe de Cristo e Rainha dos Céus. 

O vitral está intrinsecamente associada com o poder e o mistério da Igreja. Na cultura popular, a mera sugestão de vitrais é um código para um cenário religioso e a autoridade por trás dele. Os artistas da Disney, que animaram o filme de Victor Hugo “Corcunda de Notre Dame” usou a imagem de luz emitida a partir de vitrais na famosa catedral gótica para transmitir isso. A força do significado dos vitrais na imaginação popular não é susceptível de diminuir. A experiência convincente de uma catedral gótica, com vitrais, como a de Chartres, assegura sua atração continuada como destinos turísticos e sua natureza duradoura como um lugar para conexão espiritual. 

A ANUNCIAÇÃO
JAN VAN EYCK – GALLERY OF ART,
WASHINTON, DC.





ILUSTRAÇÃO DO FILME 
"CORCUNDA DE NOTRE DAME" 
DISNEY.





Vitral - Técnicas de vidro

As técnicas tradicionais de vitrais foram claramente estabelecida por volta do século XI, que segue até hoje. Detalhes do processo medieval, o mesmo usado por alguns artistas, são conhecidos a partir de um tratado técnico sobre as artes escritas por volta de 1100 por um monge alemão, Teófilo.
O processo começa com sílica, o principal componente da areia. Com a areia é misturada uma potássio de madeira de faia queimada (potash of burned beechwood) como um fundente para baixar o ponto de fusão da sílica. O uso da cal segue, para estabilizar a mistura.
O vidro Medieval foi feito em fornos de cúpula com um vaso de argila servindo como o base. Pó de óxidos metálicos, os mesmos utilizados para fazer tintas, foram adicionados ao vidro fundido para produzir uma gama relativamente estreita de cores: azul, purpura e verde.

Peças de vidro eram produzidos por meio de um cana que recolhia a massa quente do forno, utilizando dois métodos, cada um dos quais tem início com uma bola de vidro fundido em uma forma especial. A primeira, que produz o vidro de manga (muff glass),  levou peças feitas a partir de um cilindro de vidro separada da cana, que seria marcado e achatado ainda quando quente para produzir o vidro plano.
 A outra técnica, chamada de "Coroa " (Crown glass), começou como esferas sopradas e giradas, achatando o vidro pela força centrífuga.  Ambos são métodos demorados, acrescentando muito o custo de vitrais na Idade Média.

Um único painel pode ser constituída por centenas de peças individuais de vidro. As peças eram geralmente pequenas e, muitas vezes falhas, contendo muitas impurezas, bolhas e bordas irregulares. Estas imperfeições estão entre a atração especial do vitral medieval, conferindo-lhe uma característica unica de brilho e cor. Mais tarde, John La Farge e Tiffany introduziu imperfeições em suas criações. Da mesma forma, Frank Lloyd Wright usou  "vidro semeado"(seeded glass), assim chamado porque ele por incorpora pequenas bolhas que dispersam a luz, para criar uma qualidade de vibração.








PROCESSO DE PRODUÇÃO DO VIDRO




Vitral Românico: C. 1050-1150


Dependente do contexto arquitetônico para o seu desenvolvimento, os vitrais se tornam um destaque artístico até o design tradicional das igrejas ser radicalmente repensado no final do período românico. Provavelmente não é coincidência que nenhum exemplo intacto de vitrais tenha sobrevivido antes do século XI, que foi quando surgiram  novas circunstâncias culturais e teológicas,  favorecendo o crescimento da arte. Durante essa idade, aconteceram grandes mudanças culturais e intelectuais que conduziria a Europa da Idade das Trevas sem uma grande expansão de consciência. Para observadores contemporâneos, como o monge Cluniac Raoul Glaber,  parecia que o  mundo foi se refazendo.
O mais antigo exemplo de sobrevivência de vitrais, desde o Românico é a cabeça de Cristo da Abadia de Weissembourg,  perto da Alsácia.  A cabeça é pintada em vidro transparente, ou branco. A imagem é fortemente linear,  com aplicação da grisalha com traços grossos, quase grotescos, dispostos na parte dos olhos, cabelo e barba, assim como a veladura ocre que modela as sombras.
Entre a cabeça Wissembourg e o trabalho seguinte sobrevivente de vidro colorido encontra-se uma quantidade considerável de tempo. Um grupo de quatro profetas da Catedral de Augsburg, sobrevive fora de um conjunto maior que data do século XI ou início do século XII.

Ao longo do séculoXII, uma segunda onda de prédios da igreja românica que começou principalmente envolveu a construção de catedrais. Os vitrais românicos atingiram o seu pico com os projetos de mudança da arquitetura eclesiástica no século XII.  

HEAD OF CHRIST 
MUSÉE DE L’OEUVRE DE NOTRE DAME 
STRASBOURG, FRANCE 






THE PROPHETS 
CATHEDRAL OF SAINT MARY
AUGSBURG, GERMANY





   Vitrais Góticos
A dualidade da luz e história

O desenvolvimento de vitrais no período gótico é precedida por uma longa história  mal documentada.
Na nova forma, o opaco, arte estática pictórica da antiguidade foi transformada em imagens carregadas com o princípio a luz.
A qualidade luminosa dos vitrais corresponderam aos conceitos metafísicos de luz e espiritualidade desenvolvidas pelos primeiros teólogos cristãos. O Vitral foi visto como um mediador entre os reinos terrenos e divinos. A aura de luz colorida foi facilmente interpretada como uma manifestação metafórica da força divina e do amor. E também era completamente interligado para que os telespectadores entende-se em a representação de uma imagem ou uma história com o que eles sentiam que era a fonte sublime de significado para a história. 



A origem  do estilo gótico


A primeira vez em que houve uma retratação bem diferente de temas espirituais foi aproximadamente em 1144 graças à luz e cor que desempenharam um novo papel, enfatizando a imagem de “reino divino” em capelas e ambientes afins.

BASÍLICA DE ST. DENIS
Situada em Paris e construída no século VII, passou por alterações, assim sendo considerada o primeiro edifício verdadeiramente gótico. As reconstruções não tiraram sua beleza excepcional. As janelas retratam a vida de alguns santos, de uma forma sequencial lógica de acontecimentos importantes, o que marca uma diferença da exposição de imagens religiosas em vitrais. Estes equivalem a textos visuais explicando as experiências terrenas de figuras sagradas no cristianismo.
O esquema de cores é complexo, há uma ênfase marcante na vida terrena, dando as cenas uma realidade viva.
Os vitrais são incorporados a Basílica graças as suas modificações estruturais, com a eliminação de paredes entre as colunas de apoio, que possibilitaram a combinação de iluminação divina com luz natural. Foi também o primeiro edifício a conter rosáceas. 



A catedral gótica: 1200-1250


A ascensão das grandes catedrais góticas foi em um dos períodos mais dinâmicos da civilização ocidental. O lado espiritual da época era forte e vibrante, a essência da inteligência divina foi sentida para ser assim trazida do céu e derramada sobre a humanidade. Uma força e fé mais potente ainda com a veneração de Maria como a Mãe de Cristo, sempre simpática e amorosa universalmente, considerada então como a “Rainha dos céus”.
A maioria das catedrais foram iniciadas no séc. XIII e muitas sobrevivem até hoje.
Como já retratado, a estrutura arquitetônica gótica diferencia-se da românica por possuir aberturas entre os pilares ao eliminar os suportes, promove à luz uma síntese dinâmica, tipicamente medieval.




ROSÁCEA
BASÍLICA ST. DENIS, PARIS


BASÍLICA ST. DENIS, PARIS







Catedral de Chartres


A catedral de Chartres situada na França é o exemplo mais antigo do pleno desenvolvimento da arquitetura gótica. Após passar por um incêndio em 1194 e ser destruída toda praticamente, foi reconstruída e finalizada em 1220.
Apesar de estar no contexto gótico, ela não possuía aberturas nas paredes, o que resulta em uma escuridão notável em seu interior.
A maior parte do vidro contido na catedral data-se do século XIII, e os temas retratados em seus vitrais são variados conforme os interesses dos doadores. Um terço das janelas foi pago por guildas das cidades, nessas janelas o sagrado e o profano se encontram e fundem-se. A qualidade de vida e o ambiente comercial e urbano são decisivos para essas doações. O restante das doações foi feito por eclesiásticos e pela realeza francesa. São janelas vibrantes e em grande escala, modelo seguido pelas igrejas mais importantes construídas posteriormente.
Uma das maiores glórias de Chartres são as rosáceas, obras altamente complexas, tanto na técnica quanto em sua simbologia. O assunto geral retratado é Maria ou Cristo no céu, sempre no centro de uma série de símbolos organizados concentricamente. Foram pensadas como os “olhos do céu”, tanto pela luz, como para os papéis de Cristo e Maria ao disseminar todo o conhecimento e a salvação.


CHARTRES CATHEDRAL 
CHARTRES- FRANCE


CHARTRES CATHEDRAL 
CHARTRES- FRANCE





O ESTILO RADIANTE OU GÓTICO TARDIO

Concentraram-se em Paris os maiores talentos franceses reunidos pela corte Francesa durante o reinado de Luís IX no início do século XIII. A apreciação da arte como experiência vital dava seus primeiros indícios.
As janelas tomam a maior proporção possível. O esquema rendilhado que preenche o topo das janelas junto à grades é complexo e altamente ornamentado. Um sistema fortemente linear e vertical.
Cores densas e saturadas são substituídas por tons mais leves e menos contrastantes.
Esse estilo refletia a cultura urbana sofisticada da Corte Real de Paris, o refinamento do vitral foi rapidamente espalhado para terras germânicas, Europa central e Espanha.
Os vitrais produzidos em larga escala, espalharam-se em duas ou mais áreas da janela, fato que permitiu mais luz para a catedral.
A liberdade dos artistas era como se fosse proporcional a extensão das janelas. Assumindo cada vez mais um caráter decorativo.
Um estilo que sem dúvidas predomina na grandiosidade da história dos vitrais.

SAINT-CHAPELLE 
PIERRE DE MONTREUIL
PARIS, FRANCE





BIBLIOGRAFIA

 Wyli, Elizabeth e Sheldon Cheek - The aet of stained and decorative glass.
http://www.vitrais-westminster.com.br/nt_html/29.html  > acessado em 18 de abril de 2012 ás 15:00






por Chayene Ferreira e Priscilla Pinheiro











Nenhum comentário:

Postar um comentário