O vitral como metáfora
A arte do vitral sempre ocupou um lugar
especial na imaginação popular, que produz uma experiência estética inteiramente diferente do que a de qualquer
outra arte a partir de afrescos, pinturas e iluminuras. O observador é
impressionado pelo esplendor da cor brilhante produzida exclusivamente com o
esplendor da luz.
A história do vitral está enraizada na arquitetura. Para o
seu efeito, o vitral depende de um contexto espacial estrutural. A experiência
de uma grande igreja vista do interior repleto de vitrais, brilhando com todo o
tipo de jóia, era entendida como sendo a personificação do céu. Na Idade Média, as
igrejas foram os locais de encontro do céu e da terra, santificados pela Virgem
Maria. A pintura de Jan van Eyck “A Anunciação” retrata a presença milagrosa de
Maria no santuário cercado por referências visuais de seu papel como mãe de
Cristo e Rainha dos Céus.
O vitral está intrinsecamente associada com o poder e o
mistério da Igreja. Na cultura popular, a mera sugestão de vitrais é um código
para um cenário religioso e a autoridade por trás dele. Os artistas da Disney,
que animaram o filme de Victor Hugo “Corcunda de Notre Dame” usou a imagem de
luz emitida a partir de vitrais na famosa catedral gótica para transmitir isso.
A força do significado dos vitrais na imaginação popular não é susceptível de
diminuir. A experiência convincente de uma catedral gótica, com vitrais, como a
de Chartres, assegura sua atração continuada como destinos turísticos e sua
natureza duradoura como um lugar para conexão espiritual.
A ANUNCIAÇÃO
JAN VAN EYCK – GALLERY OF ART,
WASHINTON, DC.
ILUSTRAÇÃO DO FILME
"CORCUNDA DE NOTRE DAME"
DISNEY.
Vitral - Técnicas de vidro
As técnicas tradicionais de vitrais foram
claramente estabelecida por volta do século XI, que segue até hoje. Detalhes do processo medieval,
o mesmo usado por alguns artistas, são conhecidos a partir de um tratado
técnico sobre as artes escritas por volta de 1100 por um monge alemão, Teófilo.
O processo começa com sílica, o principal componente da
areia. Com a
areia é misturada uma potássio de madeira de faia queimada (potash of burned
beechwood) como um fundente para baixar o ponto de fusão da sílica. O uso da cal segue,
para estabilizar a mistura.
O vidro Medieval foi feito em fornos de cúpula com um vaso
de argila servindo como o base. Pó de óxidos metálicos, os mesmos
utilizados para fazer tintas, foram adicionados ao vidro fundido para produzir
uma gama relativamente estreita de cores: azul, purpura e verde.
Peças de vidro eram produzidos por meio de um cana que recolhia a massa quente do forno,
utilizando dois métodos, cada um dos quais tem início com uma bola de
vidro fundido em uma forma especial. A primeira, que
produz o vidro de manga (muff glass), levou
peças feitas a partir de um cilindro de vidro separada da cana, que seria marcado
e achatado ainda quando quente para produzir o vidro plano.
A outra técnica,
chamada de "Coroa " (Crown glass), começou como esferas sopradas e
giradas, achatando o vidro pela força centrífuga. Ambos são métodos demorados, acrescentando
muito o custo de vitrais na Idade Média.
Um único painel pode ser constituída
por centenas de peças individuais de vidro. As peças eram geralmente pequenas
e, muitas vezes falhas, contendo muitas impurezas, bolhas e bordas irregulares.
Estas imperfeições estão entre a atração especial do vitral medieval, conferindo-lhe uma característica unica de brilho e cor. Mais tarde, John La Farge e
Tiffany introduziu imperfeições em suas criações. Da mesma forma, Frank Lloyd Wright usou "vidro semeado"(seeded glass),
assim chamado porque ele por incorpora pequenas bolhas que dispersam a luz,
para criar uma qualidade de vibração.
PROCESSO DE PRODUÇÃO DO VIDRO
Vitral Românico: C. 1050-1150
Dependente do contexto arquitetônico para o seu desenvolvimento, os vitrais se tornam um destaque artístico até o design tradicional das igrejas ser radicalmente repensado no final do período românico. Provavelmente não é coincidência que nenhum exemplo intacto de vitrais tenha sobrevivido antes do século XI, que foi quando surgiram novas circunstâncias culturais e teológicas, favorecendo o crescimento da arte. Durante essa idade, aconteceram grandes mudanças culturais e intelectuais que conduziria a Europa da Idade das Trevas sem uma grande expansão de consciência. Para observadores contemporâneos, como o monge Cluniac Raoul Glaber, parecia que o mundo foi se refazendo.
O mais antigo exemplo de sobrevivência de vitrais, desde o Românico é a cabeça de Cristo da Abadia de Weissembourg, perto da Alsácia. A cabeça é pintada em vidro transparente, ou branco. A imagem é fortemente linear, com aplicação da grisalha com traços grossos, quase grotescos, dispostos na parte dos olhos, cabelo e barba, assim como a veladura ocre que modela as sombras.
Entre a cabeça Wissembourg e o trabalho seguinte sobrevivente de vidro colorido encontra-se uma quantidade considerável de tempo. Um grupo de quatro profetas da Catedral de Augsburg, sobrevive fora de um conjunto maior que data do século XI ou início do século XII.
Ao longo do séculoXII, uma segunda onda de prédios da igreja românica que começou principalmente envolveu a construção de catedrais. Os vitrais românicos atingiram o seu pico com os projetos de mudança da arquitetura eclesiástica no século XII.
HEAD OF CHRIST
MUSÉE DE L’OEUVRE DE NOTRE DAME
STRASBOURG, FRANCE
THE PROPHETS
CATHEDRAL OF SAINT MARY
AUGSBURG,
GERMANY
Vitrais Góticos
A dualidade da luz e história
O desenvolvimento de vitrais no período gótico é precedida
por uma longa história mal documentada.
Na nova forma, o opaco, arte estática pictórica da antiguidade
foi transformada em imagens carregadas com o princípio a luz.
A qualidade luminosa dos vitrais corresponderam aos
conceitos metafísicos de luz e espiritualidade desenvolvidas pelos primeiros
teólogos cristãos. O Vitral foi visto como um mediador entre os reinos terrenos
e divinos. A aura de luz colorida foi facilmente interpretada como uma
manifestação metafórica da força divina e do amor. E também era completamente
interligado para que os telespectadores entende-se em a representação de uma imagem
ou uma história com o que eles sentiam que era a fonte sublime de significado
para a história.
A origem do estilo gótico
A primeira vez em que houve uma retratação bem diferente de
temas espirituais foi aproximadamente em 1144 graças à luz e cor que
desempenharam um novo papel, enfatizando a imagem de “reino divino” em capelas
e ambientes afins.
BASÍLICA DE ST. DENIS
Situada em Paris e construída no século VII, passou por
alterações, assim sendo considerada o primeiro edifício verdadeiramente gótico.
As reconstruções não tiraram sua beleza excepcional. As janelas retratam a vida
de alguns santos, de uma forma sequencial lógica de acontecimentos importantes,
o que marca uma diferença da exposição de imagens religiosas em vitrais. Estes
equivalem a textos visuais explicando as experiências terrenas de figuras
sagradas no cristianismo.
O esquema de cores é complexo, há uma ênfase marcante na
vida terrena, dando as cenas uma realidade viva.
Os vitrais são incorporados a Basílica graças as suas
modificações estruturais, com a eliminação de paredes entre as colunas de
apoio, que possibilitaram a combinação de iluminação divina com luz natural.
Foi também o primeiro edifício a conter rosáceas.
A catedral
gótica: 1200-1250
A ascensão das grandes catedrais góticas foi em um dos
períodos mais dinâmicos da civilização ocidental. O lado espiritual da época
era forte e vibrante, a essência da inteligência divina foi sentida para ser
assim trazida do céu e derramada sobre a humanidade. Uma força e fé mais
potente ainda com a veneração de Maria como a Mãe de Cristo, sempre simpática e
amorosa universalmente, considerada então como a “Rainha dos céus”.
A maioria das catedrais foram iniciadas no séc. XIII e
muitas sobrevivem até hoje.
Como já retratado, a estrutura arquitetônica gótica
diferencia-se da românica por possuir aberturas entre os pilares ao eliminar os
suportes, promove à luz uma síntese dinâmica, tipicamente medieval.
ROSÁCEA
BASÍLICA ST. DENIS, PARIS
BASÍLICA ST. DENIS, PARIS
Catedral de
Chartres
A catedral de Chartres situada na França é o exemplo mais
antigo do pleno desenvolvimento da arquitetura gótica. Após passar por um
incêndio em 1194 e ser destruída toda praticamente, foi reconstruída e
finalizada em 1220.
Apesar de estar no contexto gótico, ela não possuía
aberturas nas paredes, o que resulta em uma escuridão notável em seu interior.
A maior parte do vidro contido na catedral data-se do século
XIII, e os temas retratados em seus vitrais são variados conforme os interesses
dos doadores. Um terço das janelas foi pago por guildas das cidades, nessas
janelas o sagrado e o profano se encontram e fundem-se. A qualidade de vida e o
ambiente comercial e urbano são decisivos para essas doações. O restante das
doações foi feito por eclesiásticos e pela realeza francesa. São janelas
vibrantes e em grande escala, modelo seguido pelas igrejas mais importantes
construídas posteriormente.
Uma das maiores glórias de Chartres são as rosáceas, obras
altamente complexas, tanto na técnica quanto em sua simbologia. O assunto geral
retratado é Maria ou Cristo no céu, sempre no centro de uma série de símbolos
organizados concentricamente. Foram pensadas como os “olhos do céu”, tanto pela
luz, como para os papéis de Cristo e Maria ao disseminar todo o conhecimento e
a salvação.
CHARTRES CATHEDRAL
CHARTRES- FRANCE
CHARTRES CATHEDRAL
CHARTRES- FRANCE
O ESTILO RADIANTE OU
GÓTICO TARDIO
Concentraram-se em Paris os maiores talentos franceses
reunidos pela corte Francesa durante o reinado de Luís IX no início do século
XIII. A apreciação da arte como experiência vital dava seus primeiros indícios.
As janelas tomam a maior proporção possível. O esquema
rendilhado que preenche o topo das janelas junto à grades é complexo e
altamente ornamentado. Um sistema fortemente linear e vertical.
Cores densas e saturadas são substituídas por tons mais
leves e menos contrastantes.
Esse estilo refletia a cultura urbana sofisticada da Corte
Real de Paris, o refinamento do vitral foi rapidamente espalhado para terras
germânicas, Europa central e Espanha.
Os vitrais produzidos em larga escala, espalharam-se em duas
ou mais áreas da janela, fato que permitiu mais luz para a catedral.
A liberdade dos artistas era como se fosse proporcional a
extensão das janelas. Assumindo cada vez mais um caráter decorativo.
Um estilo que sem dúvidas predomina na grandiosidade da
história dos vitrais.
SAINT-CHAPELLE
PIERRE DE MONTREUIL
PARIS, FRANCE
BIBLIOGRAFIA
Wyli, Elizabeth e Sheldon Cheek - The aet of stained and decorative glass.
http://www.vitrais-westminster.com.br/nt_html/29.html > acessado em 18 de abril de 2012 ás 15:00
http://lqes.iqm.unicamp.br/images/pontos_vista_artigo_divulgacao_vidros.pdf > acessado em 18 de abril de 2012 ás 15:05
http://abingerstainedglass.blogspot.com.br/search?updated-max=2010-09-26T09:45:00%2B01:00&max-results=7 > acessado em 18 de abril de 2012 ás 15:36
por Chayene Ferreira e Priscilla Pinheiro
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