O vitral no Rio Grande do Sul
Bianca Gonçalves
Flávia Faro
Jairo Kaster
A partir do século XX é que se dá o surgimento dos principais exemplares de vitrais produzidos em território nacional. O Século foi marcado por diversos movimentos como: Belle Époque, as Grandes Guerras e o período entre guerras além de grandes invenções, desenvolvimento político, econômico e aumento na expectativa de vida.
No Brasil a produção de vitrais nacionais se dá nesse período já de forma que consiga abastecer o mercado interno, espalhando-se pelas capitais as grandes Casas como a Casa Conrado, em São paulo, Casa Genta e a Casa Veit, percussoras no Rio Grande do Sul.
O RS possui influência artística e arquitetônica do estilo eclético derivados do século XIX, momento em que o charque está em grande desenvolvimento, na região sul, e onde ostentar a cultura e a arte estava em alta, status social. Muitas edificações eram construídas com ricos detalhes, como os vitrais.
No século XIX, na Europa, o vitral tem um valor funcional e de decoração pela possibilidade de uso de novos materiais (como ferro e o aço), porém não apresenta o mesmo valor catequético de antes da decadência que se dá entre os séculos XIV e XV. Decadência esta, muitas vezes explicada uso de recursos, como o uso de perspectivas, que aproximam os vitrais das pinturas de cavalete, com os valores renascentistas (fig. 1) . As imagens sacras foram substituídas pelos planos dogmáticos da Igreja por cenas com fundos e uma nova espacialidade. Segundo WERTHEIMER (2011, p.53), a produção do vitral contemporâneo foi marcada pelo uso de desenhos de diversas formas, além dos religiosos, como era de costume.
Figura 1: Vitral Frances típico do século XIX com valor funcional, uso de perspectivas e aproximação com a pintura, cena com fundo e plano dogmático. Fonte: Wertheimer, 2011p.49
No RS o estilo dos vitrais predominava imagens figurativas, marca de doadores e cercaduras, muito comuns nos vitrais europeus até fins do século XX. Entre os percussores vitralistas estão: alemão José Wollman e da Vidraçaria Porto-Alegrense os ateliês Casa Veit e Casa Genta.
José Wollman (1851 - 1932) chegou ao Brasil, vindo de Boêmia, se instalou no Rio de Janeiro e por não agüentar o clima tropical mudou-se para o sul do país instalando-se inicialmente nas proximidades de São Sebastião do Caí. Posteriormente deslocou-se para Porto Alegre onde montou seu ateliê perdurando até sua morte. Entre seus trabalhos estão: os painéis da antiga igreja Menino Deus (fig. 2), de Porto Alegre, os vitrais da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1906 (fig.3), e os vitrais das janelas da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (fig.4).
Figura 2: Igreja gótica Menino Deus, 1940. Porto Alegre. FONTE: Publicada por Ronaldo Bastos.
Figura 3: Fachada do prédio do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre, (imagem direita). Vitral “Doutrina Jurídica” localizada na lateral deleitada escadaria do Prédio do Curso de Direito da Universidade (imagem esquerda)
Figura 4: Vitral da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Fonte: Wertheimer, 2011; pg. 64
CASA VEIT
Um dos ateliês de vitrais mais importantes de Porto Alegre, coordenado pela família Veit de origem alemã. Inicialmente Albert Gottfried Veit (fig. 5 e 6) coordenava o ateliê passando posteriormente para os filhos e neto. A família veio para o Brasil e instalaram-se nas proximidades de Erechim (Precisamente na cidade de Gaurama a 17,3Km de Erechim – Rio Grande do Sul) e para assim se dedicar a agricultura. Como José Wollman, Albert Veit não se adaptou a nova vida, muito precária. Em 1915, Albert e sua família migram para Porto Alegre. Albert foi por muitos anos empregado na Vidraçaria Artística de Antônio Seitz (Localizada na Alemanha ). Com a experiência de vitralista ali adquirida juntamente aos filhos e ao neto decidiu montar seu próprio negócio a Vitraux e Arte Veit e posteriormente a Casa Veit que se localizava no centro de Porto Alegre na década de 50.
Figura 5: Ateliê Casa Veit. Fonte: Wertheimer, 2011 Pg.65
Figura 6: imagem de Albert Veit
Os primeiros trabalhos da família Veit não eram assinados, como se foi feito mais adiante onde assinavam como: Veit e Filho, Veit e Hans Veit, porém não datados (fig. 7).
Figura 7: Assinatura Veit e Filho do vitral fabricado pela Casa Veit
Nos anos de 1920 e 1930 o ateliê esteve em um momento de grande produção sendo reconhecido e merecedor de prêmios como medalhas. Uma das obras da Casa Veit são os vitrais da Catedral da cidade de Santa Cruz – RS (fig. 8), cuja qual esta entre os principais trabalhos juntamente com igreja São José, em Porto Alegre (fig.9 e 10) e a Catedral de Pelotas (fig.11).
Figura 8: Vitral da Catedral de Santa Cruz do Sul. Publicada por Elio Abe, 2009.
Figura 9: Vitral e retábulo do altar, Igreja São José, Porto Alegre - RS
Figura10: Detalhe de do vitral “Santa Catarina”, Igreja São José, Porto Alegre – RS. Wertheimer, 2011 pg. 67
Figura 11: Vitral “Santa Clara” Catedral São Francisco de Paula, Pelotas – RS. Wertheimer, 2011
Uma das características dos vitrais Veit era o traçado requintado, hachuras nos quais deixaram de ser realizados após a morte de Albert Veit que faleceu em 1934. Os vidros opalinos e opalescentes eram muito usados, principalmente em fachadas.
Após a morte de Albert, seu filho Albert Josef continuou o trabalho da Casa Veit, porém veio a falecer em seguida, assim o filho mais novo Hans deu continuidade. Nessa nova equipe que o filho mais novo comandava estava seu filho, Waldir Veit, que trabalhou dos 15 aos 25 anos, com a morte de Hans nos anos 70, a empresa fechou as portas.
Casa Genta
Tendo como fundador Antônio Genta (fig. 12), uruguaio nascido em Montevidéu (1879-1943), a Casa Genta inicia sua história em 1906 em Porto Alegre - RS.
Filho do italiano Giuseppe Genta e da uruguaia Balbina Salaberry, em meados de 1906, Antônio Genta casou-se com Albertina Sofia Fisher e desde então começou a trabalhar com vidros, juntamente com seu irmão Miguel Aníbal Genta e seu cunhado Arthur Felipe Fisher.
Figura 12: foto da família Genta: Antônio Genta, Giuseppe no centro, Antônio em pé e Miguel no colo, em Buenos Aires, 1886.
Fonte: Foto Cedida por Iara Haubert Rodrigues.
Fonte: Foto Cedida por Iara Haubert Rodrigues.
A Arte de trabalhar com vidros foi ensinada desde cedo a Antônio e Miguel Genta, visto que Giuseppe, logo após emigrar da Itália para o Uruguai, passou a exercer a profissão que lhe foi passada em Gênova e Altari, reproduzindo assim a arte veneziana. Em Montevidéu, fixou-se com uma indústria de vidros e espelhos, onde provavelmente seus filhos aprenderam o ofício, que anos depois criou vulto na capital gaúcha.
Em 1913, enquanto Antônio administra os negócios, seu irmão Miguel viaja para Europa com o propósito de conhecer novas técnicas, materiais, maquinários e artesãos, onde permaneceu até meados de 1921 em virtude da I Guerra Mundial. Com o retorno de Miguel, a empresa tomou maior porte e uniu-se a Helmuth Shimidt Filho (sobrinho de Albertina Fisher), quando passou a girar sobre o nome empresarial “Casa Genta – M.Genta, Shimidt & Cia”.
Com a força dos artesãos europeus, na segunda fase da empresa, tendo em vista os belos trabalhos em vidro, vitrais e vitrines, a Casa Genta foi premiada com medalha de bronze na exposição de Chicago, medalha de ouro em 1925 pelos Cinqüenta anos da Colonização Italiana no Estado, bem como em 1935, comemoração ao centenário da Revolução Farroupilha, Porto Alegre - RS.
A Casa Genta, o maior ateliê do Estado do Rio Grande do Sul, fundado por Antônio Genta, funcionou no período de 1940 a 1980. Os dois principais pintores que atuaram na fabricação dos vitrais foram o espanhol Mestre Francisco Huguet e o alemão Maximiliam Dobmeier.” (WERTHEIMER , 2011 pg. 20; p/2).
Como diferença entre os vitrais da Casa Genta e da Casa Veit podemos muitas vezes perceber a vibração cromática obtida pelo maior uso e do uso de vidro branco, na Casa Veit, e de importados como fazia a Casa Genta. Podendo ser esse um diferencial em relação a própria estrutura dos ateliês, levando em conta que o trabalho com as cores e a composição das imagens que se diferenciam muito umas das outras. Ambas as casas também apresentam diferença na estrutura e apresentam riqueza no trabalho das cercaduras.
Nos dois grupos de vitrais, a cena se desenrola no interior de um elemento arquitetônico, são arcos poliglobados apoiados por colunas. Esta estrutura se repete na produção dos dois ateliês, lembrando baldaquinos, mas com um caráter mais clássico e não gótico, como são comumente representados em vitrais de Porto Alegre (WERHTEIMER, 2011 pg. 156/ 157)
No Rio Grande do Sul as Igrejas com vitrais considerados exemplos de contemporaneidade estão: Igreja St. Antônio do Partenon, Porto Alegre; Catedral e Igreja St. Cecília, Porto Alegre; Igreja São Pelegrino, Caxias do Sul; Catedral São Francisco de Paula, Pelotas. (GALVÃO, 2000. Pág. 14/p.3)
Igreja St. Antônio do Partenon
A igreja Santo Antônio do Partenon (fig. 13) Possui mais de 20 vitrais cujos quais retratam a vida de St. Antônio segundo a passagem da bíblia, sendo a maioria doação de fiéis. Igreja localizada no Bairro St. Antônio, em Porto Alegre. Começou a ser construída em 1928 sendo finalizada em 1932 pelos cuidados de Casagranda. Os materiais, em maioria, vieram da Inglaterra, França e Alemanha, sendo alguns dos vitrais provenientes da França (fig. 14). Os primeiros vitrais, da atual sacristia e “lojinha”, os restantes foram produção da Casa Genta, de Mestre Huguet.(fig. 15)
Figura 13: Fachada da Igreja St. Antônio do Partenon, em Porto Alegre.
Figura 14: Vitrais provenientes da França, relatam a vida de St Antônio. Igreja St Antonio do Partenon – PoA/ RS
Figura 15: Vitrais produzidos pela casa Genta. Retrato da vida de St Antônio. Igreja St Antonio do Partenon - PoA/ RS
Além dos vitrais já citados, também podem ser encontrados exemplares em diversas outras partes do estado do Rio Grande do Sul. Entre as Igrejas que mais se destacam no RS estão, a Igreja St Cecilia em Porto Alegre onde contém exemplares de Mestre Huguet (Fig. 16). Na cidade de Pelotas há a Catedral São Francisco de Paula (fig. 17, 18, 19), é considerado o mais importante templo religioso do município construído em 1813. Os afrescos de seu interior se destacam por sua beleza, produzidos pelo pintor italiano, Aldo Locatelli a convite do bispo de Pelotas, Dom Antonio Záttera. Estes afrescos são considerados o maior trabalho de Locatelli, juntamente com a via sacra da igreja São Pelegrino de Caxias do Sul.
A Igreja de São Pelegrino de Caxias do Sul possui uma existência invulgar de vitrais das janelas brancas (fig. 20), típicas de construções Cistercienses, onde possuem pouca ligação com o luxo e a ostentação. Destaca-se pelos afrescos de Aldo Locatelli.
A influência portuguesa nos vitrais gaúchos é irrelevante, o estado recebeu grandes influências européias como da Alemanha e Itália, grandes tradicionalistas na técnica. A importação de materiais pela Argentina e Uruguai, próximas ao estado contribuíram para a influência das técnicas destes países.
Figura 16: Vitral pintado por Mestre Huguet, Casa Genta, 1943. Disponibilizada por Fernando Barroso
Figura 17: Fachada da Catedral São Francisco de Paula, Pelotas – RS
Figura 18: Vitrais no interior da Catedral de São Francisco de Paula. Pelotas – RS
Figura 19: Vitrais no interior da Catedral São De Francisco de Paula. Pelotas – RS. Fonte: 360° CIDADES
Figura 20: Vitrais contemporâneos do interior da Igreja São Pelegrino, Caxias do Sul
Os vitrais maravilhosos da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus,em Antônio Prado,RS,foram criados pela Casa Vitória assim como o mosaico que está no frontispicio da Casa paroquial.Trabalhos de um valor ímpar.
ResponderExcluirCorrigindo os vitrais e mosaico foram criados pela Casa VEIT
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