Até a década de 1880
os vitrais que existiam no Brasil eram todos importados da Inglaterra, França e
Alemanha, com preços muito altos.
Lutava-se contra
deficiências técnicas, não havia vidros planos, apenas em chapas, somente os
vidros soprados de produção manual em pequenas dimensões.
O ateliê cresceu e
começou a produção de vitrais. Em 1889, é fundada a Casa Conrado, especializada
na atividade do vitral.
No começo os vitrais brasileiros
tinham muita influência dos europeus, porém, começa a surgir uma tendência, o
domínio gradual da temática brasileira, por volta do fim da 1° Guerra Mundial.
Um dos primeiros trabalhos com essa temática foi o vitral da Bolsa do Café de
Santos e São Paulo.
O Prédio da Bolsa do Café abriga o vitral feito por Benedito Calixto
Essas características
são marcadas pela paleta de cores mais cores tropicais e uma narrativa da a
história nacional: fundação de cidades, a borracha, o café, a mitologia
indígena, a interpretação brasileira dos evangelhos, as flores e as frutas, etc.
Tornam-se completamente diferentes dos europeus, que tinham menos movimento e
outros conceitos.
Em 1922 isso se torna
ainda mais evidente com a Semana de Arte Moderna e a Exposição Comemorativa do
Primeiro Centenário da Independência.
No mesmo ano chega ao
país o italiano César Alexandre Formenti com o seu filho, o pintor Gastão
Formenti que também passa a se dedicar aos vitrais no Rio de Janeiro.
As atividades de ateliês como o
de Conrado Sorgenicht mais ainda os trabalhos realizados pelos Formentis, no Rio
de Janeiro, Heinrich Moser em Pernambuco, Casa Genta e Veit no Rio Grande do
Sul e ainda Manoel Castro Garcia e Urbam em São Paulo , levaram o
Ministério da Fazenda, em 1935,
a reconhecer que a produção nacional de vitrais era
bastante satisfatória para abastecer o país e suspendeu a sua
importação.
Casa Conrado
Como foi ressaltado anteriormente,
a Casa Conrado foi pioneira no país. Existem centenas de catedrais, matrizes,
basílicas, capelas, colégios, faculdades, dispensários, sacristias, asilos,
bibliotecas, mercados municipais, ministérios, fóruns, hospitais, orfanatos,
cinemas, exposições industriais, casas missionárias, santas-casas de misericórdia,
conventos, círculos operários e residência com vitrais Conrado por todo país.
Não há nenhum estado que não possua ao menos uma obra projetada pela casa.
Nos anos de 1940, a Casa Conrado foi
absorvida pela Companhia Comercial de Vidros do Brasil, CVB, que queria fazer
um monopólio da produção de vidros no país. Porém, anos mais tarde a CVB
fracassou e Conrado prosseguiu.
Há alguns anos, Conrado afirmava:
“Nossa atividade, em momento algum, deixou de ser artesanal. (...) e por isso
não existem dois vitrais iguais no país”. (Brandão, 1994)
TIME: A fórmula do Vitral
É a fórmula recomendada por
Conrado Sorgenicht, para analisar a qualidade do vitral. T é o tema, I é a
interpretação, M é a matéria prima e E é a execução.
No Mercado Municipal de São
Paulo, são 55 vitrais, com temas referentes à agricultura brasileira e ao
trabalhador do campo, realizados entre 1928 e 1933.
Heinrich Moser
Heinrich Moser nasceu em Munique
na Alemanha em 1886. Veio para o Brasil em 1910 quando sua tia Júlia
Doederlein, o convidou para projetar a Casa Alemã em Recife. Desde então
não saiu mais do país.
Em 1821 comprou uma prensa (fieira)
de chumbo alemã do século XVIII e finalmente entrou para o vitralismo. Um de
seus primeiros trabalhos foi a Basílica do Carmo em Recife, quando ainda nem
possuía o aparelhamento necessário. Além de vitrais, produzia murais, pinturas
sobre teto, esculpia santos e desenhava altares.
Seus vitrais tinham as cores
quentes do nordeste, as figuras típicas e a história, ao lado do sacro. Moser
ainda lutava contra condições desfavoráveis, não tinha nascido dentro da arte
do vitral, tudo que fazia demandava muitas pesquisas e experimentações.
Tinha um estilo muito peculiar,
usava da experiência de muralista. Utilizava vidros plaqué para conseguir efeitos especiais, pois a película sobreposta
era retirada com ácido e isto proporcionou inúmeras possibilidades ornamentais.
Heinrich Moser contribui também
para a fundação da Escola de Belas Artes, além de ter sido mestre de uma série
de grandes artistas como Lula Cardoso Ayres e Laerte Baldini.
Palácio Campo das Princesas,
Recife
Fonte: < http://brasilartesenciclopedias.com.br/>
Lorenz Heilmar
Em 1953 Lorenz embarcou para o
Brasil e em Porto Alegre, Lorenz foi trabalhar em um estabelecimento com grande
tradição vitralista, a Casa Genta, com trabalhos espalhados por todo estado.
A Casa Genta não concordava com
gastos representados por vitrais fora do seu catálogo, o único trabalho
original que Lorenz participou naquela época foi na Igreja do Rosário, Porto
Alegre, junto a Benedito Calixto, o arquiteto. Lorenz então, se demitiu e
acabou indo para Blumenau, Santa Catarina, onde o esperava um projeto
grandioso: 800 metros quadrados
de vitrais para a catedral.
Na época não existia vidro
colorido no Brasil, mas os franciscanos tinham facilidades e influências e
trouxeram tudo que foi pedido. A mão-de-obra veio da própria região. Depois
retornou para Porto Alegre levando alguns de seus aprendizes e em 1956 abriu a
Arte Sul. Até firmar-se na luta contra os grandes do ramo, Casas Genta e Veit, percorreu
todos os cantos do Rio Grande do Sul.
Após alguns anos, o mercado na
região Sul do país se retraiu e ele resolveu tentar São Paulo. Instalou-se na
capital paulista, e após muita procura encontrou uma velha fábrica de cerâmica
chamada Morumbi, onde a Arte Sul começou uma nova etapa. Mesmo com as
restrições a importações e o monopólio que a CVB exercia, Lorenz resolveu
fabricar vidro, ao mesmo tempo em que ganhou uma grande concorrência, a de
criar os vidros para a catedral do Rio de Janeiro, eram 4 painéis de 70 metros por 20 metros .
Catedral do Rio de Janeiro
Fonte: < http://luiznevesufrj.blogspot.com.br/>
Foi para Alemanha conhecer o
funcionamento de grandes fábricas de vidro. Ao voltar a fábrica foi aberta e a
produção iniciada, um incêndio destruiu todas as instalações e recomeçaram tudo.
“Os Heilmairs criaram uma nova técnica para a junção dos vitrais da catedral,
em concreto, por causa das grandes dimensões”. (Brandão, 1994) É a Técnica Dalle de Verre ou Slab Glass.
Voltaram para a região Sul do
país e em Curitiba, Paraná, abriram a Vitralis, que alem de vitrais entrou no
ramo de luminárias e divisórias, cuja base tinha a mesma estrutura do vitral. A
Vitralis também fez o projeto dos vitrais para a Basílica de Aparecida, São
Paulo.
Nos vitrais da Caixa Econômica
Federal de Brasília (DF), Lorenz Heilmair teve a proposta de representar os
estados e territórios brasileiros, em 1978. Ele escolheu uma cor diferente para
cada região: o amarelo representa o Nordeste, a cor verde a região
Centro-Oeste, a cor turquesa a região Sudeste, a cor azul a região Sul,
vermelho a região Norte e a cor laranja os territórios.
Fonte: < http://hfanti.wordpress.com/>
Marianne Peretti
Marianne
Peretti descende de mãe francesa e pai pernambucano e cresceu em Paris no meio
de artistas, poetas e jornalistas. Marianne tem seu ateliê em Olinda,
Pernambuco, onde trabalha com diversos materiais, não somente vitrais e gosta
muito de misturar técnicas.
Um de seus
projetos é o dos vitrais da Catedral de Brasília, considerado um dos maiores do
mundo. Para desenhá-lo, ela usou o chão de um ginásio de esportes, o Nelson
Nilson. Muitas vezes os desenhos tinham que ser retirados do ginásio, pois este
tinha que ser devolvido ás funções originais. Isso fazia com que perdessem de 10 a 12 dias.
São 16
vitrais de 130 metros quadrados
cada um, com coluna no meio. Cada vitral tem 30 metros de altura e 10 metros na base. O
trabalho durou 11 meses. Quem fabricou os vidros da Catedral de Brasília foi
Emílio Zanon, no Rio Grande do Sul.
Foram restaurados em 2010 e Marianne
esteve presente durante a execução.
Fonte: < http://www.superbrasilia.com/aquarela/aq_catedral_a_noite.jpg>
Mais de 120 anos de arte
vitralista no Brasil
No Brasil muitas pessoas vêm se
dedicando a arte do vitral, mesmo que sejam vertentes como divisórias,
luminárias, portas, janelas e eventuais restaurações. Mesmo assim, são poucos,
pois um curioso levantamento revelou que somente no Rio Grande do Sul, entre
igrejas, conventos e residências, existem mais de 6 mil vitrais esperando por
restauradores. Sabe-se que o acervo brasileiro de vitrais é bastante grande, uma
parte mínima foi restaurada, perdem-se obras valiosíssimas. Não se fez ainda o
levantamento total do que possuímos.
Muitos estúdios que se dedicam a
vitrais para residências trabalham com fibra de vidro, acrílico e plástico,
técnicas que os vitralistas não consideram legítimas, pois não possuem estrutura de chumbo nas
junções e soldaduras além de serem elementos que sofrem muito com a ação do
tempo. Na igreja de Osasco, em
São Paulo , foi utilizada uma resina que no espaço de alguns
anos perdeu todas as cores. O verdadeiro vitral permanece por milênios.
Segundo Luis Fernando Marques
Nunes uma das causas do pouco conhecimento sobre vitrais no país pode ser a falta
de Literatura sobre o assunto. É escassa em livrarias e completamente
inexistente em bibliotecas.
Referências Bibliográficas
BRANDÃO, Ignácio de Loyola, Luz
no Êxtase: Vitrais e Vitralistas no Brasil. São Paulo: DBA Artes Gráficas,
1994.
<http://adbr001cdn.archdaily.net/wpcontent/uploads/2011/12/1323952422_augusto_areal_2.jpg
>Acesso em 18 abril 2012
< http://www.superbrasilia.com/aquarela/aq_catedral_a_noite.jpg
> Acesso em 18 abril 2012
< http://luiznevesufrj.blogspot.com.br/
> Acesso em 18 abril 2012
< http://brasilartesenciclopedias.com.br/
> Acesso em 19 abril 2012
< http://hfanti.wordpress.com/
>Acesso em 19 abril 2012
<http://www.piratininga.org/mercado_municipal/mercado_municipal_vitral.jpg>
Acesso em 19 abril 2012
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000109223> Acesso em 2 junho 2012
<http://viajamos.com.br/photo/vitral-a-vis-o-de-anhanguera-bolsa-do-caf-santos-1> Acesso em 8 junho 2012
Marina Perfetto Sanes
Recentemente conclui um MBA na Faculdade Antônio Meneghetti , one há um belíssimo vitral de mais ou menos 6 x 45/50mts de autoria de Antônio Meneghetti. E pelo que sei foi executado por uma empresa local que realizou e ainda realiza vários trabalhos na região e até fora do estado.
ResponderExcluirA faculdade se localiza no distrito de Recanto Maestro entre Restinga Seca e São João do Polesine. O site da faculdade é www.faculdadeam.edu.br. Nesse distrito várias casas possuem vitrais de grandes dimensões no estilo ontoarte.
Achei muito interessante neste local o resgate da técnica de vitrais na arquitetura, além da beleza das obras. Vale a pena conferir.
Gustavo Bertolini
Gostaria de saber, por gentileza, onde há um curso de vitral no rio de janeiro.
ResponderExcluirMeu email: marciamariaalves@gmail.com
Olá... Sou de Fordlândia-Pá,a Paróquia Sagrado Coração De Jesus tem uns dez vitrais da C.V.B CASA CONRADO. É um dia desses o vento muito forte jogou uma parte de um dos vitrais no chão e ele apenas se despedaçou queria saber se a CASA CONRADO ainda existe para que possamos revitalizar os vitrais da igreja,pois eles são lindos! Como foi mencionado acima não existe peças repetidas ...e por isso estou procurando informações para que possamos resolver o nosso problema.
ResponderExcluirGrato se alguém poder nos ajudar.
Parabens por este lindo trabalho. De que cidade vocês são? cristinamattoso@yahoo.com.br
ResponderExcluiralguma referência sobre a autoria dos vitrais da Capela de Santa Terezinha do Palácio Guanabara, Rio de Janeiro-RJ?
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