quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vitrais no Brasil



Até a década de 1880 os vitrais que existiam no Brasil eram todos importados da Inglaterra, França e Alemanha, com preços muito altos.
Em São Paulo o artesão Conrado Sorgenicht, alemão que chegou no país em 1874, abre uma pequena oficina onde oferece serviços de pintura de ornamentos, tapeçaria e colocação de vidros para vidraças. Conrado Sorgenicht teve a idéia de decorar vidros lisos e transparentes com gravações à ácido e obteve excelentes resultados.
Lutava-se contra deficiências técnicas, não havia vidros planos, apenas em chapas, somente os vidros soprados de produção manual em pequenas dimensões.
O ateliê cresceu e começou a produção de vitrais. Em 1889, é fundada a Casa Conrado, especializada na atividade do vitral.
No começo os vitrais brasileiros tinham muita influência dos europeus, porém, começa a surgir uma tendência, o domínio gradual da temática brasileira, por volta do fim da 1° Guerra Mundial. Um dos primeiros trabalhos com essa temática foi o vitral da Bolsa do Café de Santos e São Paulo.



O Prédio da Bolsa do Café abriga o vitral feito por Benedito Calixto


Essas características são marcadas pela paleta de cores mais cores tropicais e uma narrativa da a história nacional: fundação de cidades, a borracha, o café, a mitologia indígena, a interpretação brasileira dos evangelhos, as flores e as frutas, etc. Tornam-se completamente diferentes dos europeus, que tinham menos movimento e outros conceitos.
Em 1922 isso se torna ainda mais evidente com a Semana de Arte Moderna e a Exposição Comemorativa do Primeiro Centenário da Independência.
No mesmo ano chega ao país o italiano César Alexandre Formenti com o seu filho, o pintor Gastão Formenti que também passa a se dedicar aos vitrais no Rio de Janeiro.
As atividades de ateliês como o de Conrado Sorgenicht mais ainda os trabalhos realizados pelos Formentis, no Rio de Janeiro, Heinrich Moser em Pernambuco, Casa Genta e Veit no Rio Grande do Sul e ainda Manoel Castro Garcia e Urbam em São Paulo, levaram o Ministério da Fazenda, em 1935, a reconhecer que a produção nacional de vitrais era bastante satisfatória para abastecer o país e suspendeu a sua importação.




               Casa Conrado

Como foi ressaltado anteriormente, a Casa Conrado foi pioneira no país. Existem centenas de catedrais, matrizes, basílicas, capelas, colégios, faculdades, dispensários, sacristias, asilos, bibliotecas, mercados municipais, ministérios, fóruns, hospitais, orfanatos, cinemas, exposições industriais, casas missionárias, santas-casas de misericórdia, conventos, círculos operários e residência com vitrais Conrado por todo país. Não há nenhum estado que não possua ao menos uma obra projetada pela casa.
Nos anos de 1940, a Casa Conrado foi absorvida pela Companhia Comercial de Vidros do Brasil, CVB, que queria fazer um monopólio da produção de vidros no país. Porém, anos mais tarde a CVB fracassou e Conrado prosseguiu.
Há alguns anos, Conrado afirmava: “Nossa atividade, em momento algum, deixou de ser artesanal. (...) e por isso não existem dois vitrais iguais no país”. (Brandão, 1994)

TIME: A fórmula do Vitral
É a fórmula recomendada por Conrado Sorgenicht, para analisar a qualidade do vitral. T é o tema, I é a interpretação, M é a matéria prima e E é a execução.

No Mercado Municipal de São Paulo, são 55 vitrais, com temas referentes à agricultura brasileira e ao trabalhador do campo, realizados entre 1928 e 1933.







Heinrich Moser

Heinrich Moser nasceu em Munique na Alemanha em 1886. Veio para o Brasil em 1910 quando sua tia Júlia Doederlein, o convidou para projetar a Casa Alemã em Recife. Desde então não saiu mais do país.
Em 1821 comprou uma prensa (fieira) de chumbo alemã do século XVIII e finalmente entrou para o vitralismo. Um de seus primeiros trabalhos foi a Basílica do Carmo em Recife, quando ainda nem possuía o aparelhamento necessário. Além de vitrais, produzia murais, pinturas sobre teto, esculpia santos e desenhava altares.
Seus vitrais tinham as cores quentes do nordeste, as figuras típicas e a história, ao lado do sacro. Moser ainda lutava contra condições desfavoráveis, não tinha nascido dentro da arte do vitral, tudo que fazia demandava muitas pesquisas e experimentações.
Tinha um estilo muito peculiar, usava da experiência de muralista. Utilizava vidros plaqué para conseguir efeitos especiais, pois a película sobreposta era retirada com ácido e isto proporcionou inúmeras possibilidades ornamentais.
Heinrich Moser contribui também para a fundação da Escola de Belas Artes, além de ter sido mestre de uma série de grandes artistas como Lula Cardoso Ayres e Laerte Baldini.

Palácio Campo das Princesas, Recife

                                    Fonte: < http://brasilartesenciclopedias.com.br/>



Lorenz Heilmar

Em 1953 Lorenz embarcou para o Brasil e em Porto Alegre, Lorenz foi trabalhar em um estabelecimento com grande tradição vitralista, a Casa Genta, com trabalhos espalhados por todo estado.
A Casa Genta não concordava com gastos representados por vitrais fora do seu catálogo, o único trabalho original que Lorenz participou naquela época foi na Igreja do Rosário, Porto Alegre, junto a Benedito Calixto, o arquiteto. Lorenz então, se demitiu e acabou indo para Blumenau, Santa Catarina, onde o esperava um projeto grandioso: 800 metros quadrados de vitrais para a catedral.
Na época não existia vidro colorido no Brasil, mas os franciscanos tinham facilidades e influências e trouxeram tudo que foi pedido. A mão-de-obra veio da própria região. Depois retornou para Porto Alegre levando alguns de seus aprendizes e em 1956 abriu a Arte Sul. Até firmar-se na luta contra os grandes do ramo, Casas Genta e Veit, percorreu todos os cantos do Rio Grande do Sul.
Após alguns anos, o mercado na região Sul do país se retraiu e ele resolveu tentar São Paulo. Instalou-se na capital paulista, e após muita procura encontrou uma velha fábrica de cerâmica chamada Morumbi, onde a Arte Sul começou uma nova etapa. Mesmo com as restrições a importações e o monopólio que a CVB exercia, Lorenz resolveu fabricar vidro, ao mesmo tempo em que ganhou uma grande concorrência, a de criar os vidros para a catedral do Rio de Janeiro, eram 4 painéis de 70 metros por 20 metros
Catedral do Rio de Janeiro

                                         Fonte: < http://luiznevesufrj.blogspot.com.br/>


Foi para Alemanha conhecer o funcionamento de grandes fábricas de vidro. Ao voltar a fábrica foi aberta e a produção iniciada, um incêndio destruiu todas as instalações e recomeçaram tudo. “Os Heilmairs criaram uma nova técnica para a junção dos vitrais da catedral, em concreto, por causa das grandes dimensões”. (Brandão, 1994) É a Técnica Dalle de Verre ou Slab Glass.
Voltaram para a região Sul do país e em Curitiba, Paraná, abriram a Vitralis, que alem de vitrais entrou no ramo de luminárias e divisórias, cuja base tinha a mesma estrutura do vitral. A Vitralis também fez o projeto dos vitrais para a Basílica de Aparecida, São Paulo.
Nos vitrais da Caixa Econômica Federal de Brasília (DF), Lorenz Heilmair teve a proposta de representar os estados e territórios brasileiros, em 1978. Ele escolheu uma cor diferente para cada região: o amarelo representa o Nordeste, a cor verde a região Centro-Oeste, a cor turquesa a região Sudeste, a cor azul a região Sul, vermelho a região Norte e a cor laranja os territórios. 

                                   Fonte: < http://hfanti.wordpress.com/>



Marianne Peretti

              Marianne Peretti descende de mãe francesa e pai pernambucano e cresceu em Paris no meio de artistas, poetas e jornalistas. Marianne tem seu ateliê em Olinda, Pernambuco, onde trabalha com diversos materiais, não somente vitrais e gosta muito de misturar técnicas.
            Um de seus projetos é o dos vitrais da Catedral de Brasília, considerado um dos maiores do mundo. Para desenhá-lo, ela usou o chão de um ginásio de esportes, o Nelson Nilson. Muitas vezes os desenhos tinham que ser retirados do ginásio, pois este tinha que ser devolvido ás funções originais. Isso fazia com que perdessem de 10 a 12 dias.
            São 16 vitrais de 130 metros quadrados cada um, com coluna no meio. Cada vitral tem 30 metros de altura e 10 metros na base. O trabalho durou 11 meses. Quem fabricou os vidros da Catedral de Brasília foi Emílio Zanon, no Rio Grande do Sul.
            Foram restaurados em 2010 e Marianne esteve presente durante a execução. 

Fonte:<http://adbr001cdn.archdaily.net/wpcontent/uploads/2011/12/1323952422_augusto_areal_2.jpg>



      Fonte: < http://www.superbrasilia.com/aquarela/aq_catedral_a_noite.jpg>



           Mais de 120 anos de arte vitralista no Brasil

No Brasil muitas pessoas vêm se dedicando a arte do vitral, mesmo que sejam vertentes como divisórias, luminárias, portas, janelas e eventuais restaurações. Mesmo assim, são poucos, pois um curioso levantamento revelou que somente no Rio Grande do Sul, entre igrejas, conventos e residências, existem mais de 6 mil vitrais esperando por restauradores. Sabe-se que o acervo brasileiro de vitrais é bastante grande, uma parte mínima foi restaurada, perdem-se obras valiosíssimas. Não se fez ainda o levantamento total do que possuímos.
Muitos estúdios que se dedicam a vitrais para residências trabalham com fibra de vidro, acrílico e plástico, técnicas que os vitralistas não consideram legítimas,  pois não possuem estrutura de chumbo nas junções e soldaduras além de serem elementos que sofrem muito com a ação do tempo. Na igreja de Osasco, em São Paulo, foi utilizada uma resina que no espaço de alguns anos perdeu todas as cores. O verdadeiro vitral permanece por milênios.
Segundo Luis Fernando Marques Nunes uma das causas do pouco conhecimento sobre vitrais no país pode ser a falta de Literatura sobre o assunto. É escassa em livrarias e completamente inexistente em bibliotecas. 
           
                                                                                                                                                                           

Referências Bibliográficas


BRANDÃO, Ignácio de Loyola, Luz no Êxtase: Vitrais e Vitralistas no Brasil. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 1994.

<http://adbr001cdn.archdaily.net/wpcontent/uploads/2011/12/1323952422_augusto_areal_2.jpg >Acesso em 18 abril 2012

< http://www.superbrasilia.com/aquarela/aq_catedral_a_noite.jpg > Acesso em 18 abril 2012

< http://luiznevesufrj.blogspot.com.br/ > Acesso em 18 abril 2012

< http://brasilartesenciclopedias.com.br/ > Acesso em 19 abril 2012

< http://hfanti.wordpress.com/ >Acesso em 19 abril 2012

<http://www.piratininga.org/mercado_municipal/mercado_municipal_vitral.jpg> Acesso em 19 abril 2012

<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000109223>   Acesso em 2 junho 2012

<http://viajamos.com.br/photo/vitral-a-vis-o-de-anhanguera-bolsa-do-caf-santos-1> Acesso em 8 junho 2012


                                                                                  Marina Perfetto Sanes